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Por que o BB pagou caro pela Nossa Caixa?

quinta-feira, 20 de novembro de 2008 Leave a Comment

Banco paulista tem forte presença no estado mais rico do país, pouca alavancagem e ótima base de depósitos

O Banco do Brasil não pagou barato pela Nossa Caixa, segundo analistas. O negócio foi fechado pelo equivalente a 2,36 vezes o patrimônio líquido da Nossa Caixa (3,2 bilhões de reais). O valor de 70,63 reais por ação ordinária corresponde a um ágio de 37,7% em relação à cotação de fechamento desta quarta-feira (51,30 reais). Vale lembrar que as ações da Nossa Caixa já lideram as altas do Ibovespa neste ano, com ganho de 125,7% - um índice impressionante quando comparado à alta de 33,1% da segunda colocada (a empresa de energia Transmissão Paulista) ou à média do Ibovespa (-47,7%). "O mais justo seria algo em torno de 50 reais por ação", afirmou José Góes, economista da corretora Alpes. "Se a oferta fosse realizada num momento de liquidez abundante, como se via meses atrás, não seria excessiva. Mas, agora, o cenário é outro", afirma Wellington Senter, analista da Modal Asset Management.

O negócio, no entanto, pode ser positivo para o BB. Um ponto a ser ressaltado é que o banco federal poderá dividir o pagamento de 5,38 bilhões de reais ao estado de São Paulo em 18 parcelas mensais a partir de março. O valor de cada parcela - de 299 milhões de reais, corrigidos pela taxa Selic - poderá ser suportado pela própria geração de caixa do BB, algo importante em um momento de crise do crédito.

Agora o banco federal também reduz a distância do Itaú-Unibanco, que lhe tirou a liderança do sistema financeiro brasileiro há cerca de três semanas. Juntos, Nossa Caixa e BB terão ativos totais de 512,3 bilhões de reais, contra 575 bilhões de reais do Itaú-Unibanco. Em outros critérios, no entanto, o BB ultrapassa ou amplia sua liderança sobre o concorrente privado, como em administração de recursos de terceiros (268,8 bilhões de reais contra 244,8 bilhões), saldo de operações de crédito (165,8 bilhões de reais contra 98,5 bilhões) e depósitos totais (228,2 bilhões de reais contra 133,6 bilhões). Além disso, caso o BB confirme a compra do Banco de Brasília (BRB) e de 49% do Banco Votorantim, voltará a brigar pelo primeiro lugar em ativos.

O preço do negócio também reflete o fato de que a Nossa Caixa tem algumas das características mais valorizadas pelo mercado em um momento de crise do crédito. O banco paulista é pouco alavancado, tem uma carteira de crédito enxuta levando em consideração seus depósitos e conta com presença significativa no estado mais rico do país. “A penetração no mercado paulista é um passo importante para que o Banco do Brasil recupere espaço após a fusão entre Itaú e Unibanco”, diz Erivelto Rodrigues, presidente da Austing Rating.

Além disso, a Nossa Caixa é um dos poucos alvos de aquisição num mercado cada vez mais concentrado. Entre os principais ativos da Nossa Caixa estão depósitos judiciais de 16 bilhões de reais, que agora serão transferido para o BB. A Nossa Caixa possui um acordo de exclusividade com o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para guardar esses depósitos até 2017. O principal vínculo do banco paulista, entretanto, é com o governo do estado e com as estatais paulistas. A Nossa Caixa é responsável pela arrecadação de impostos e pelo pagamento aos fornecedores de bens e serviços do governo estadual. Boa parte de sua carteira de crédito de 10,6 bilhões de reais tem como tomadores empresas estatais ou funcionários públicos.

BB e Nossa Caixa terão mais de 30 milhões de clientes e passarão a ser líder em agências no estado de São Paulo, à frente do Itaú-Unibanco. A Nossa Caixa está presente em todos os mais de 600 municípios de São Paulo, destacando-se nas principais cidades do interior. Antes de ser vendido ao Santander, o Banespa, e não a Nossa Caixa, era o banco estadual paulista mais forte na região metropolitana. A Nossa Caixa, no entanto, investiu na abertura de agências na capital nos últimos anos porque precisava se preparar para receber de volta a folha de 600 mil servidores do estado de São Paulo com o fim da exclusividade do Santander - o que ocorreu em 2007.

A baixa sobreposição de agências é outro ponto forte do acordo. Segundo o presidente do Banco do Brasil, Antônio Lima Neto, apenas 30 agências serão fechadas devido à aquisição. Juntos os dois bancos terão cerca de 100 mil funcionários. Lima Neto diz que não haverá demissões porque os empregados redundantes serão remanejados. Para Erivelto Rodrigues, da Austin Rating, entretanto , haverá uma redução no quadro de pessoal da Nossa Caixa de 10% a 15% do total nos próximos 12 meses.

Pontos fracos

Um dos principais pontos fracos da Nossa Caixa é que o banco pagou 2,1 bilhões de reais ao governo do estado para ter a conta dos servidores paulistas até 2012. Apesar de ser considerado um valor justo pelo mercado, analistas acreditavam que as contas pudessem ser migradas para a Nossa Caixa de graça como forma de aumentar o valor do banco. Além disso, os desembolsos ao governo paulista devem reduzir os lucros da Nossa Caixa nos próximos quatro anos.

Terceiro maior banco público em ativos, atrás apenas do BB e da Caixa Econômica Federal, a Nossa Caixa também vinha pagando o preço de seu conservadorismo. O banco era um dos mais sensíveis à queda da taxa básica de juros da economia brasileira (a Selic) nos últimos anos, por ter boa parte de seus recursos investidos em títulos públicos.

Por último, a Nossa Caixa tem uma penetração baixa de produtos por cliente quando comparada ao índice de seus concorrentes. A instituição começou a investir em vendas cruzadas nos últimos meses, mas seus resultados ainda estão aquém do potencial. Para a corretora do Unibanco, o BB poderá implantar seu modelo de negócios na Nossa Caixa e rentabilizar a operação. Seria, portanto, a melhor forma de justificar o preço pago.
Fonte: Exame.com.br

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