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De lucros exorbitantes, bolsa agora carrega a má fama das ações que viraram pó

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 Leave a Comment

SÃO PAULO - Na crise, o valor das ações responde mais à emoção do investidor que à própria racionalidade do investimento. Quando o imprevisível não é mais surpresa no dia a dia das bolsas, são diversos casos de ações que viraram pó ou chegam muito perto disto. Parafraseando Warren Buffett: "Preço é o que você paga, valor é o que você tem".

Um ano atrás, eram os ganhos estratosféricos que chamavam atenção. Há casos de small caps que renderam mais de 6.500% em três anos - como exemplo, o caso das ações da produtora de cadeados e fechaduras Haga (HAGA4), que foram de R$ 0,18 em janeiro de 2006 para R$ 12 em janeiro de 2009.

Os mega-IPOs de BM&F e Bovespa apenas popularizaram uma promessa irresistível das ações: ganhos fantásticos em pouco tempo. Ironicamente, estas ofertas marcaram a virada do jogo. Agora, os casos famosos são de quem assistiu seu investimento derreter.

Longo prazo de 66 anos, em vão
A GM é bom exemplo. Imagine comprar as ações da maior fabricante de automóveis do mundo em 1942, por menos de US$ 3. Naquela época, nem passava pela cabeça as proporções, tão pouco o desenvolvimento que o mercado de veículos iria atingir. Depois de toda a história, aquele investidor bate o olho na cotação de seus ativos e vê que, 66 anos depois, o preço da ação é o mesmo.

Ameaçada por prejuízos seguidos e queda nas vendas, a GM viu suas ações voltarem ao preço da Segunda Guerra Mundial. Para se ter uma idéia, os papéis da empresa chegaram a valer US$ 88,75 em abril do ano 2000 - valorização de mais de 2.800% frente àqueles US$ 3. Fecharam a US$ 2,79 em 19 de novembro do ano passado, mínima destes anos de história.

Apareceu e já desapareceu
Mais recentemente, o caso do Citigroup é o que chama mais atenção nos EUA. Dois anos atrás, as ações valiam US$ 54,50. Na última quinta-feira (15), valiam US$ 3,40 - desvalorização de 93% frente ao pico de abril de 2007.

Não precisa ir muito longe. Quem assistiu à onda de IPOs de 2007 teve alimentado seu otimismo de ganhos exponenciais com o investimento em ações. Entre as muitas empresas que estrearam naquele ano, a Agrenco, por exemplo, começou cotada a R$ 10,40 e atualmente vale R$ 0,22. Em menos de dois anos, prejuízo de 97,9% ao acionista.

Mercado irracional
É comum ler analistas destacando que determinado ativo está barato, ou melhor, descontado em relação a seus fundamentos. Vale e Petrobras são duas ações frequentemente citadas. A onda de programas de recompra de ações é exemplo de que as próprias empresas consideram seu valor no mercado injusto.

No caso do Lehman Brothers, as ações chegaram a ser negociadas a valor inferior ao ativo imobilizado da empresa. Grosso modo, seus prédios e demais bens físicos valiam mais do que o mercado avaliava a companhia inteira.

Por aqui, entre tantos casos, dá para destacar o da Log-In. Em outubro do ano passado, a capitalização de mercado da empresa era de R$ 400 milhões. Na ocasião, a Log-In possuía R$ 194 milhões em caixa sem endividamento financeiro. "Alguém que comprasse hoje a empresa estaria pagando apenas R$ 206 milhões pelo negócio dela (logística), que apresentou um lucro líquido de R$ 38 milhões apenas no primeiro semestre", destacou a Gradual Corretora na época.

Os números da empresa têxtil Coteminas também referentes a 31 de outubro de 2008 são mais um bom exemplo. Na data, a empresa possuía um patrimônio líquido de R$ 1,468 bilhão, um capital de giro líquido de R$ 1,118 bilhão e um valor de mercado de R$ 378 milhões. Esse cenário dá origem a duas situações diversas. Na primeira, um comprador poderia pagar a empresa com seu capital de giro e ainda sobrariam R$ 740 milhões; na segunda, o comprador poderia adquirir a empresa, encerrar seu negócio, receber e pagar todos os compromissos, liquidar os ativos e, depois de tudo isso, ainda sobraria quase R$ 1,1 bilhão.

Não é quanto vale, é quanto pagam
Parte do sobe-e-desce das ações remete a casos de certa irracionalidade do mercado. Pagam pela ação muito mais ou muito menos do que seus fundamentos indicam, do que a empresa realmente vale.

Mas a crise é fator agravante. Não é novidade que há diversas opções baratas atualmente, o problema é que o mercado não mostra disposição alguma para comprá-las. Na crise, preço não é quanto vale, é quanto o mercado está disposto a pagar.
Fonte: InfoMoney

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